sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Resumo do livro de Teoria do Conhecimento de Johannes Hessen

1. A essência do conhecimento

Ao enveredar pelo caminho da filosofia, a primeira e grande questão que pode surgir é a de saber qual a essência da filosofia. Sendo que a teoria do conhecimento é uma disciplina que pertence ao corpo da filosofia, ela deve também se questionar pela essência.
Muitos filósofos ao longo da história deram suas definições referentes à questão como Platão, Aristóteles, os estóicos, epicuristas e Wolff. Cada um desses deu sua definição sobre a essência da filosofia, mas segundo J. Hessen essas diversas definições geraram divergências que obstruíram a chegada a uma verdadeira definição. “Só chegaremos a tal definição se nos voltarmos para o próprio fato histórico da filosofia”[1] é o fato histórico que nos fornece o material com o qual se pode obter o conceito de essência da filosofia. E esse fato pode ser dado a partir dos grandes sistemas filosóficos que moveram o mundo (Platão, Aristóteles, Descartes, Leibniz, Kant e Hegel). O que marcas esses sistemas é o seu caráter de totalidade e universalidade. Isso embasa a atividade do filósofo: a buscar pelo conhecer e pelo saber. São os sistemas, afirma Hessen, que fornecem aos filósofos os instrumentos necessários para ele chegar a essência da filosofia: atitude em relação à totalidade dos objetos; o caráter racional, cognoscitivo dessa atitude. Com isso chega-se a um conceito de essência da filosofia, que ainda é, por demais puramente formal. A riqueza do conteúdo desse conceito está quando consideramos os sistemas dentro do seu contexto histórico.
Ao longo da história, cada filósofo impostou à filosofia um conceito de essência que dizia respeito ao seu tempo e a sua história. J. Hessen parte de Sócrates para fazer esse perfil histórico. E de fato, segundo ele, Sócrates pode ser considerado uma referência nessa perspectiva. Nele a filosofia ganha uma nova direção. Seus questionamentos e suas inquietações aguçam o espírito humano à busca do conhecimento não apenas do mundo, mas de seu próprio eu. Platão e Aristóteles e todos os pós-socráticos inovarão a partir da nova conjuntura. E todos darão grande contribuição para a filosofia na busca de um conceito de essência. Platão centrará suas reflexões nos mais altos valores teóricos e práticos, os valores do verdadeiro, do belo e do bom; Aristóteles dará á filosofia a conotação de ciência primeira (que depois viria a ser chamada de Metafísica); em Cícero a filosofia aparecerá como “Mestra da vida”. E assim o autor vai seguindo todo percurso histórico passando pela Idade Média, Moderna e Contemporânea. Ele conclui essa primeira colocação e afirma que “a filosofia é a tentativa do espírito humano de atingir uma visão do mundo, mediante a auto-reflexão sobre suas funções valorativas teóricas e práticas”[2] Para Hessen, esse fato aproxima a filosofia da ciência enquanto ambas discorrem sobre o pensamento e o conhecimento humano. Contudo, a filosofia se difere da ciência tendo em vista o seu campo e o seu modo de atuação. A ciência cuida do particular e a filosofia é a ciência da universalidade dos seres e dos entes. Ela perscruta pela essência do mundo, enquanto que a ciência contenta-se com o aparente e experimentável. Mas além possuir relevância em relação à ciência, o Hessen ainda difere a filosofia da arte e da religião. E essa diferença, segundo ele, reside no modo como esses dois domínios da cultura discursarão sobre seu objeto de estudo. J. Hessen conclui dizendo que “a filosofia tem uma face voltada para a religião, para a ciência e para a arte. Com a religião e a arte tem em comum o olhar dirigido à totalidade do real; com a ciência tem em comum o caráter teórico”[3]

2. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia


Para J. Hessen é claro o lugar da teoria do conhecimento no sistema da filosofia: ela é uma parte da teoria da ciência. Ele a define como teoria material da ciência ou como teoria dos princípios materiais do conhecimento humano.

3. A história da teoria do conhecimento

Apesar do espírito humano manifestar sua inquietação pela realidade fenomênica do mundo desde a Grécia antiga, para Hessen só podemos falar de teoria do conhecimento como disciplina sistematizada e independente a partir da idade moderna. E seu passo inicial foi dado pelo empirista inglês John Locke, considerado fundador da mesma. É em uma obra de Locke (An essay concerning human understanding) de 1690 que pela primeira vez se tratou de modo sistemático as questões referentes à origem, à essência e à certeza do conhecimento humano. E a partir daí a teoria do conhecimento enquanto reflexão nessa perspectiva ganhou o mundo com Leibniz, G. Berkeley, Kant, Fichte, Schelling, Hegel e outros.

Teoria Geral do conhecimento
Investigação fenomenológica preliminar:
O fenômeno do conhecimento humano e os problemas nele contido

Toda a problemática da teoria do conhecimento parte sempre da relação entre sujeito e objeto como elementos fundantes do conhecimento humano e de sua elaboração. Segundo J. Hessen no ato do conhecimento defrontam-se consciência e objeto, sujeito e objeto. O conhecimento, portanto, é a relação de um com o outro; e a apreensão de um pelo outro. É importante também lembrar da separação entre sujeito e objeto nessa relação. Parece contraditório, mas não é. Hessen explica. Mesmo havendo relação entre ambos, existe uma autonomia de um para com o outro. Percebe-se uma dialética de reciprocidade. Para Hessen “há uma transcendência do objeto na esfera do sujeito correspondendo à transcendência do sujeito na esfera do objeto. Na relação o objeto é o determinante, o sujeito o determinado. Daí o conhecimento ser definido como uma determinação do sujeito pelo objeto”[4]
J. Hessen divide, no plano do conhecimento, os objetos entre reais e ideais. Ele chama de reais ou efetivos aqueles que se dão a conhecer pela experiência externa ou interna ou são inferidos a partir dela. Os ideais aparecem como irreais meramente pensados. Exemplo destes são as estruturas matemáticas, os números, as figuras geométricas etc.
Dentro dessa relação entre sujeito e objeto surge a essência do conhecimento: o conceito de verdade. E ela é justamente a concordância da “figura com o objeto”. Portanto, a verdade diz respeito à correlação entre conteúdo e objeto intencionado. Para Hessen, esse conceito de verdade é “ingênuo”. E ele afirma que “não basta que um conhecimento seja verdadeiro. Devemos também chegar à certeza de que o seja”[5]. Isso é o que ele chama de critério de verdade.
E por ultimo Hessen nos fala de três esferas distintas que caracterizam o conhecimento humano nas suas diversas relações: Sujeito, imagem e objeto. Pelo sujeito o fenômeno do conhecimento se configura a uma esfera psicológica, porque é o sujeito que toma partido sobre o objeto; pela imagem o fenômeno assume uma dimensão lógica, pois a imagem do objeto no sujeito é uma estrutura lógica e, enquanto tal, objeto da lógica; e por ultimo o objeto e sua dimensão ontológica. O objeto defronta-se com a consciência cognoscente enquanto algo que é, quer se trate de um ser real ou ideal.[6]

I. Possibilidade do conhecimento

1. O Dogmatismo

O Dogmatismo é uma posição epistemológica para a qual o problema do conhecimento não chega a ser levantado. Este já é dado pelo próprio objeto. A expressão dogma exprime isso: doutrina estabelecida. Portanto, para o dogmático não existe problema para o conhecimento, tendo em vista que na relação entre sujeito e objeto tudo já está estabelecido pelo objeto.

2. O Ceticismo

É uma corrente que se torna antagônica ao dogmatismo. A palavra que dá origem ao termo ceticismo é a expressão grega Sképtesthai, considerar, examinar. Enquanto o dogmático se centra no objeto e dele estabelece a verdade do conhecimento, o cético centraliza seu olhar no sujeito e coloca neste o critério de verdade para o conhecimento, já afirmando a impossibilidade de conhecimento. “O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria, segundo ele, impossível. Por isso, não podemos fazer juízo algum, ao contrário, devemos nos abster de toda e qualquer formulação de juízos”[7]. Esse é o ceticismo extremo de Pirro de Elis (360-270 a.C) e acabaria por cair em enormes contradições. Negar a possibilidade de conhecer é negar ao homem algo de essencial na sua dinamicidade, a capacidade de conhecer o mundo. Mas existe também o ceticismo médio de Arcesilau e Carnéades de um conhecimento verossimilhante à verdade. Na filosofia moderna o ceticismo entrou com Montaigne (ceticismo ético); Hume (ceticismo metafísico) e com Descartes que proclamou os direitos da dúvida metódica, criando o ceticismo metódico e não de princípio[8].

3. O Subjetivismo e o relativismo

O ceticismo no fim negou a verdade. O dogmatismo o absolutizou; o subjetivismo e o relativismo se aproximam do ceticismo ao proporem a não existência de verdades universais. Não existe, segundo essa concepção verdade universalmente válida e apreendida por todos. O subjetivismo coloca no sujeito a referência para o conhecimento. É o sujeito que determina e avalia o critério de valor dos juízos. O relativismo vai nessa linha, contudo, não se limita aos elementos internos ao sujeito. O relativismo leva em conta os fatores externo que interferem no conhecimento (a história, a cultura etc). A expressão máxima dessa corrente se encontra nos sofistas que a traduzem na expressão: “O homem é a medida de todas as coisas”.
O subjetivismo e o relativismo padecem de contradições semelhantes às do ceticismo a o negarem a existência de uma verdade universal válida para todos. No fundo, como afirma Hessen, subjetivismo e relativismo são ceticismos, pois negam também a verdade, não diretamente, mas indiretamente, na medida em que contestam sua validade universal.[9]

4. Pragmatismo

Essa corrente foi fundada pelo americano William James (+ 1910). Sua tese geral é que o homem é um ser prático dotado de vontades, ativo e não um ser pensante teórico. O pragmatismo focaliza na teoria do conhecimento a praticidade do pensamento humano. “A verdade do conhecimento consiste, portanto na concordância do pensamento com os objetivos práticos do homem – naquilo, portanto, que provar ser útil e benéfico para sua conduta prática.[10]
Hessen cita Nietzsche como um dos maiores defensores do pragmatismo na Alemanha. Este defendia a filosofia como valor prático para a vida. “A verdade não é um valor teórico, mas uma expressão para a utilidade, para a função do juízo que é conservadora de vida e servidora da vontade de poder”.[11] Para Hessen o erro fundamental dessa corrente é o desprezo pela esfera lógica, que significa negar o próprio valor e autonomia do pensamento humano. Seu êxito foi a conexão entre pensamento e aplicação na vida.

5. Criticismo

Para Hessen, o criticismo seria o meio termo entre pragmatismo e ceticismo. “Ele compartilha com o dogmatismo uma confiança axiomática na razão humana; está convencido de que o conhecimento é possível e de que a verdade existe; e do ceticismo compartilha uma desconfiança com relação a qualquer conhecimento determinado”.[12] O Criticismo se comporta como “inquisidor”; ao mesmo tempo que reconhece a existência do conhecimento, questiona e avalia a validade dos seus juízos. O criticismo funciona como elemento necessário no desenvolvimento do conhecimento humano. Hessen fala do criticismo na Antiguidade com Platão e Aristóteles e também os estóicos; na Idade Moderna com Descartes, Leibniz, locke, Hume e Sobretudo com Kant, considerado o fundador do criticismo.

II. A origem do conhecimento

A partir desse ponto, J. Hessen discorrerá sobre o modo como se dá o conhecimento, explicitando as principais vias por onde o homem pode conhecer.


1. O Racionalismo

A tese central do racionalismo é que todo conhecimento reside na razão. O pensamento está acima de qualquer outra forma de conhecimento. Segundo o racionalismo, um conhecimento só merece esse nome se for necessário e tiver validade universal. Portanto, no racionalismo, é a razão que julga e avalia o conhecimento. É o pensamento, portanto, a verdadeira fonte e fundamento do conhecimento humano.
O racionalismo tem seus germes já em Platão que desenvolveu a tese sobre o mundo das idéias em oposição ao mundo sensível. Mas será com Descartes e leibniz que o racionalismo atingirá seu cume. Poderíamos resumir o racionalismo na expressão: “Não existe nada nos sentidos que não tenha passado pelo intelecto”.

2. Empirismo

O nome em si já nos dá pistas. Concentra a possibilidade de conhecimento na “empeiria”, experiência. O empirismo é o lado extremo do racionalismo. “Nada existe no intelecto que não tenha passado pela experiência”.
John Locke é considerado o fundador do empirismo e combate fortemente a doutrina das idéias inatas (de Descartes). David Hume dará continuidade ao empirismo de Locke. O empirismo, portanto, concentra toda a condição do conhecer humano a partir da experiência do mundo e dos objetos.

3. Intelectualismo

O intelectualismo seria a tentativa de síntese entre o racionalismo e o empirismo. O intelectualismo, na elaboração do conhecimento considera que ambas as formas contribuem na elaboração do conhecimento. Segundo o intelectualismo, a consciência cognoscente lê na experiência, retira seus conceitos da experiência. Aqui retoma-se a expressão citada no empirismo, só que com um acréscimo: o pensamento não se encontra vazio, não é uma tabua rasa, como dissera Locke. O intelectualismo tira da experiência o necessário para a elaboração de suas idéias, mas nunca se encontra em estado de ausência de dados.
Aristóteles foi o filósofo que consegui elaborar uma boa síntese entre racionalismo e empirismo equilibrando assim as duas tendências. Ele consegue unir realidades opostas numa nova elaboração para o conhecimento.

4. Apriorismo

O apriorismo é uma outra forma de tentar sintetizar racionalismo e empirismo. Segundo o apriorismo, nosso conhecimento apresenta, como o nome dessa tendência já diz, elementos que são a priori, livres da experiência. O princípio que governa essa tendência é: “Conceitos sem intuições são vazios; intuições sem conceitos são cegas”.[13]
Kant é o grande fundador do apriorismo. Para J. Hessen, toda a sua filosofia foi a mediação entre o racionalismo de Leibniz e Wolff e o empirismo de Locke e Hume. Para Kant o material do conhecimento provém da experiência; aqui o apriorismo se aproxima do empirismo; enquanto a forma provém do pensamento, aqui está na linha do racionalismo.[14]

5. Posicionamento crítico

Neste ultimo ponto, Hessen faz uma síntese entre os diversos posicionamentos epistemológicos, mostrando o campo de atuação de cada um deles. Ele ressalta o fato que essas correntes epistemológicas não devem viver em constante estado de confronto. O conhecimento humano não pode prescindir das faculdades que o constituem. Razão e experiência são na verdade dois lados de uma mesma moeda. O posicionamento crítico frente a teoria do conhecimento é perceber as diversas facetas como o mesmo pode se dar. A teoria do conhecimento não deve partir o homem entre pensamento e experiência tal como fizera Descartes. A própria complexidade do homem e do mundo exigem a unidade de ambas as dimensões para a construção de verdadeiro conhecimento.

III. A Essência do conhecimento
Soluções pré-metafísicas

Para descobrir a essência do conhecimento partiremos de dois princípios que ajudam na busca de compreensão da realidade epistemológica.

a) O Objetivismo

O objeto determina o sujeito e este deve se ajustar ao mesmo. Nessa relação o sujeito é passivo, e a realidade do objeto é um dado para a consciência do homem. Para o objetivismo, os objetos são dados, apresentando uma estrutura totalmente definida que será reconstruída pela consciência do cognoscente.
Platão e o seu mundo das idéias se configuram na primeira formulação do objetivismo. Para ele as idéias são realidades objetivamente dadas. E. Husserl reavivou o pensamento platônico na contemporaneidade. A novidade de Husserl são as essências eidéticas de que ele falará como fundamento da realidade.

b) O Subjetivismo

O subjetivismo coloca no sujeito a referência do conhecimento. Desloca o mundo das idéias, essa encarnação dos princípios do conhecimento, para o sujeito o conhecimento deixa, portanto, de habitar num plano de idéias para fazer morada no próprio sujeito. O característico do conhecimento já não mais consiste numa focalização do mundo objetivo, mas num voltar-se para aquele sujeito supremo.
Agostinho é o primeiro a fazer essa inversão do plano objetivo para o plano subjetivo.

2. Soluções metafísicas do problema

a) O realismo

O realismo parte do pressuposto epistemológico segundo o qual existem coisas reais, independentes da consciência humana. Hessen fala de três tipos de realismos: o realismo ingênuo, aquele que não faz nenhuma reflexão epistemológica; o realismo natural, este está condicionado por reflexões críticas epistêmicas; o realismo crítico recebe este nome por apoiar-se em reflexões crítico-epistêmicas. Essas três formas de realismo são encontradas na filosofia antiga com Demócrito e Aristóteles. Na modernidade o realismo revive com Galileu, Descartes, Hobbes e John Locke. Hessen faz diversas reflexões quanto a variação dos tipos de realismos. Ele conclui dizendo que apesar dessas variações d realismo, a tese central permanece a mesma: há objetos reais independentes da consciência.

c) O idealismo

Este constitui a antítese do realismo. Existe o idealismo metafísico que se distingue do idealismo epistemológico. Hessen chama de idealismo metafísico a concepção de que a realidade está baseada em forças espirituais, em poderes ideais. O idealismo epistemológico é a concepção de que não há objetos reais independentes da consciência. O autor ainda fala do idealismo subjetivo ou psicológico, que afirma estar toda realidade na consciência do sujeito. Berkeley encabeça essa tendência. Para ele o ser das coisas consiste em serem percebidas pelo sujeito. O idealismo objetivo ou lógico se difere do psicológico. Este toma como ponto de partida a consciência objetiva da ciência, tal como se expressa nas obras científicas. Para o idealismo lógico o objeto não é um ser real, nem um ser de consciência, mas um ser lógico-ideal. Ao reduzir toda a realidade a algo de natureza lógica, o idealismo lógico é chamado de panlogismo. É representado hoje pelo neokantismo, especialmente pela escola de Marburgo.

d) Fenomenalismo

É a teoria de que não conhecemos as coisas como elas são, mas apenas como se nos apresentam. Devem existir coisas reais, mas nós não conseguimos captar a sua essência. Como afirmava Kant, no fenomenalismo, nós só chegamos ao fenômeno, mas nunca ao noumeno da realidade ou da coisa. O fenomenalismo, portanto, acompanha o realismo na suposição das coisas reais, mas acompanha o idealismo na limitação do conhecimento à realidade dada na consciência, ao mundo das aparências, do que resulta a incognoscibilidade das coisas.

d) Posicionamento crítico

Segundo Hessen, realismo e idealismo não se anulam. Ambos caminham paralelos sem necessidade de confronto. Contudo, o perigo do idealismo consiste e encarcerá o homem num mundo inteiramente intelectual, enquanto que o realismo pode amarrar o homem ao plano da horizontalidade epistemológica, lhe negando a dimensão espiritual.

3. Soluções teológicas do problema

a) A solução monista-panteísta do problema

Na tentativa de solucionar o problema sujeito-objeto, na perspectiva do conhecimento humano, para Hessen pode-se também retroceder ao absoluto, ao princípio ultimo da realidade e tentar a partir daí trilhar um outro caminho epistemológico. Segundo essa corrente, sujeito e objeto, pensamento e ser, consciência e objeto são apenas aparentemente uma dualidade, na verdade eles são uma unidade.
Espinosa é o pai dessa perspectiva. No centro do seu sistema reside a idéia de substância. É dessa substância que provêm toda a realidade. O mundo e os objetos assim como o próprio homem são extensões dessa substancia.
b) A solução dualista-teísta

Essa concepção de pensamento sustenta a diferença metafísica essencial entre sujeito e objeto, pensamento e ser. É certo, porém, que não considera essa duplicidade como última. Sujeito e objeto, pensamento e ser descendem, no final das contas, de um princípio comum. Esse princípio é a divindade. Ela é fonte comum da idealidade e da realidade, do pensamento e do ser. Como causa criadora do universo, Deus coordena de modo os reinos ideal e real que ambos concordam entre si, existindo numa harmonia entre pensamento e ser.

IV. Os tipos de conhecimento
1. O Problema da intuição e sua história

Depois de ter visto diversas facetas que explicam o conhecimento humano a partir das relações comum dentro da ciência (evidência do objeto e apreensão do sujeito) chega-se aquilo que Hessen chama de problema da intuição. E por quê problema? Nem sempre é clara essa relação imediata do sujeito com a realidade do objeto. O autor não duvida da existência desse tipo de conhecimento. Tudo aquilo que nos é dado na experiência interna ou externa é imediatamente apreendido pelo sujeito. Quando, porém, se fala de intuição, não se pensa em intuições desse tipo (relacionadas ao sujeito e as coisas que estas lhe externam), mas numa intuição não-sensível, espiritual. Portanto, para Hessen, tanto o dado imediato de que parte o nosso conhecimento quanto os princípios últimos que constituem seu fundamento são apreendidos de modo imediato, intuitivo. Desse modo, o autor discorre sobre a história da filosofia elencando os pensadores que deram origem a essa concepção. São eles Platão, Plotino, Agostinho, T. Aquino, Descartes, Fichte, Schopenhauer, Bérgson e Dilthey etc.

2. O correto e o incorreto no intuicionismo

No campo teórico a intuição não pode reclamar o direito de ser um meio de conhecimento autônomo emparelhado ao conhecimento racional-discursivo. Nesse campo, o intelecto está com a palavra final. Mas no campo prático as coisas mudam. A intuição possui, nesse terreno, uma importância autônoma. Diz Hessen: “enquanto seres sentem e querem, a intuição é, para nós, o verdadeiro órgão do conhecimento”. Contudo, não se pode querer colocar a intuição como modelo para o conhecimento e nem tão pouco rejeitá-la. Como diz Hessen, não caiamos no erro de Kant que apoiou o conhecimento sobre a sensação e o pensamento. É preciso que se perceba a possibilidade do conhecimento se dar fora dessas fontes tradicionais. Não se pode reduzir o homem ser aberto ao absoluto, e muito menos negar-lhes o exercício de suas capacidades espirituais. É por meio da intuição que o homem muitas vezes chega a patamares do conhecimento que nenhuma outra via o poderia conduzir. Não se pode adotar a intuição como critério para a teoria do conhecimento, mas não se pode negar a sua eficácia nesse processo.

V. Critério de verdade

O critério de verdade diz respeito a veracidade que na ciência o homem aplica ao mundo do conhecimento. O critério da verdade é o limiar por onde anda a teoria do conhecimento. Porém antes de o fazer, iniciaremos essa questão sobre a verdade partindo do conceito.

1. O conceito de verdade

O conceito de verdade está relacionado ao relação entre o pensamento e o objeto. Se aquilo que o sujeito pensa tem relação com a coisa pensada essa é a verdade aplicada. A verdade é, portanto, a concordância do pensamento com a coisa (verdade transcendente) e consigo mesmo (conceito de verdade imanente). Sendo assim, o conceito de verdade se aplica nessas duas circunstâncias, ou seja, ora ela refere-se ao conteúdo pensado com o objeto ora se relaciona com o pensamento mesmo. Portanto, dentro dessa concepção o critério da verdade não se resume apenas ao objeto, mas à compreensão do próprio pensamento do indivíduo.

2. O critério de verdade

Um dos elementos que discernem no critério de verdade é a ausência de contradição entre ser e pensamento, ou seja, não pode haver disparidades entre os juízos que são emitidos sobre as realidades objetivas. Esse é o clássico conceito de verdade advindo dos primórdios da filosofia. Mas para Hessen esse critério não é válido ao tratarmos de objetos ideais. E para isso, segundo ele, é necessário recorrer a outros critérios porque o critério tradicional (adequação do pensamento a coisa pensada) é levado em consideração com objetos reais, com as realidades objetivas mas existe outro plano que faz-se necessário também o critério de verdade . O conceito de verdade, portanto, se aplica a dois planos: aos objetos e aos pensamentos. No segundo critério a verdade questiona sobre a validade do seu próprio juízo. Seria um juízo do juízo. Talvez esse segundo critério seja mais complexo dentro dessa ótica.

2ª Teoria especial do conhecimento

As categorias

Na segunda parte da obra, J. Hessen abordará as questões especiais da teoria do conhecimento. Aqui ele entrará nos temas das categorias, da substância e de suas múltiplas relações.
A teoria especial do conhecimento, portanto, investiga e trata dos conceitos primitivos mais gerais com que tratamos definir os objetos. Esses conceitos supremos chamam-se categorias, por isso a teoria especial é essencialmente uma teoria das categorias. E enquanto teoria das categorias, a teoria especial do conhecimento manterá uma estreita relação com a metafísica e com a ontologia.
As categorias são formas do ser, determinações dos objetos, são formas do pensamento, determinações do pensamento. Elas são elementos do pensamento puro, funções lógicas fundamentais. Eles dirão respeito sobre tudo sobre as modalidades do ser. Elas não passam de determinações puras do pensamento. A essência das categorias é, portanto, dar ao ser o seu qualificativo especial, procurar por aquelas qualidades que o determinam e regem. Portanto, as categorias são predicações do ser.
O primeiro a organizara as categorias foi Aristóteles. Ele é a referência para a história da filosofia. Foi ele o primeiro a definir dez categorias para o ser. São elas: substância, quantidade, qualidades, relação, lugar, tempo, posição, estado, ação e paixão. Dessas dez categorias o destaque é a substância. No fundo, segundo Hessen, ela não passa de um sujeito substantivo; as outras nove são predicados possíveis. Somente da substância subsiste em relação às outras. Ela subsiste por si mesma. As nove categorias restantes são como que acidentes do ser. No decorrer da história da filosofia outros filósofos como Kant, Hartman, Windelbrand deram nova roupagem as categorias. Contudo, como vimos, a base está em Aristóteles. É ele que define as principais estruturas no sistema das categorias e na sua relação com o conhecimento humano.





















Bibliografia

HESSEN, J. Teoria do Conhecimento: tradução João Vergílio Gallerani Cuter. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
[1] HESSEN, J. Teoria do Conhecimento: tradução João Vergílio Gallerani Cuter. São Paulo, Martins Fontes, 2003. p. 4.
[2] Ibidem p. 9
[3] Ibidem p. 12
[4] Ibidem p. 21
[5] Ibidem P. 23
[6] Ibidem p. 25
[7] Ibidem p. 31
[8] Ibidem p. 33
[9] Ibidem p. 38
[10] Ibidem p. 40
[11] Ibidem
[12] Ibidem p. 43
[13] Ibidem p. 62
[14] Ibidem p. 63-64

9 comentários:

  1. OLa, muito bom seu texto, gostaria de saber se vc poderia comentar mais sobre a parte intitulada a possibilidade do conhecimento. sou graduanda do curso de psicologia, e tenho uma resenha critica sobre esse capitulo prara fazer, mas nao sei como expressar uma opiniao sobre.
    obrigada.

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  2. vc teria o resumo do livro de urbano zilles( teoria do conhecimento, já estou te seguindo

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito bom mas você poderia comenta mais a 2ª Teoria especial do conhecimento

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  5. Muito bom! Fui muito bem servido🤙

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